25 novembro, 2011

Anti-Acústico

Alguém me disse para nunca ter medo.
Eu acreditei, nem pestanejei.
Mas depois, tive de fechar um olho perante o outro, com educação.
Alguém me disse que é sempre difícil esquecer alguém de quem gostamos e, mesmo que queiramos esquecer, vamos sempre recordar - foram momentos que obtidos e vividos, cujo sentimento será ultrapassado, não será igual. Mas, onde está isso tudo que me fora prometido?
Terá sido o relógio do teu pulso que ainda não permitiu que esses ponteiros de chumbo ganhassem vida e pudessem respirar? Dar voltas, girar e cortar o ar.
Já sei, sou um mero ser vivo, passivo das vontades do tempo, só ele me pode chicotear ou amar.
Deixei que por mim entrasses, como se de uma porta se tratasse, que poderias usar e abusar à tua má vontade, mas não. Entraste, trancaram-te, e de lá já não te consegues soltar! E enquanto te carrego, tu usas as tuas unhas como se de um lápis de bico partido se tratasse? Por lá inicias um processo afiado, e derramas as paredes que se separam de mim.. Eu queria.
Porque vieste tu? Porque tiveste de te apressar? Tinha de ser tudo desta forma?
Não te quero, sai de mim, nem que para isso tenhas de rebentar com tudo. Revolta-te! Solta-te, cria a tua liberdade! (E a minha).
Maior dolorosa sensação é aquela que sinto quando te sentas num canto, a respirar e alimentar.
Marioneta tua, sou eu. Sendo tu uma vasta rede cancerígena, controlas tudo o que queres, tens-me sem vida, aproveita! Este será o futuro que para mim traçaste, aquele que eu próprio defendi. Não sabia, enganaste-me, deste-me a provar aquelas tuas maçãs.
Mas, alguém também me deu a conhecer a evolução, o tempo e a luta!
Não penses que me controlas o saber, não aches que me mataste, não fiques à espera que aja por ti. Não há nada pior que seja fazer-te encarar o teu aspecto. Olhar-te-ás a um espelho, e não conseguirás nada!
Vou-te agarrar e possuir! Vou-te comandar e obrigar-te a pronunciar por mim:
"Vou afastar o medo, agredi-lo da mesma forma que ele o executou em mim, e expulsá-lo! Vou decidir tudo aquilo que decidiste por mim, sem que eu pudesse decidir. Foi como se eu fosse teu escravo, como se me tivesses comprado enquanto eu estava marcado e derramado num imenso deserto."
É isto que vou obrigar-te a fazer por mim, eu irei fazê-lo! Já nada será como antes, mas pior não será, igualmente.
Está perto o dia em que, se não te soltares, puxar-te-ei pelas minhas próprias mãos, abrirei um túnel nos meus pulmões e respirarei! Arrancarei os meus olhos e poderei ver! Arrancarei o coração e poderei amar!


Adeus medo.
Assinado: o teu assassino.

1 comentário:

  1. O coração e olhos não precisas arrancar.
    Sente a brisa...

    Fantástica e encantadora prosa.

    Abraço,
    paulo

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