É tudo igual. Estás a dormir. Acordas. Abres os olhos. Levantas-te. (A cama é óptima, apetece-te voltar para lá. Se voltas, adormeces, voltas a acordar, a abrir os olhos e a levantares-te. Por fim, voltas a olhar para a cama, para não falar da vontade de para lá voltar, e voltar a repetir tudo. Se não, continuas com o que está definido nos teus lembretes do telemóvel).
Abre a janela, arranca as cortinas, ou sobe as persianas. Ou as duas coisas. Que vontade de te libertares, de ires saltar para o exterior. Não o de fora, mas o de dentro. Aquele que fixaste sobre a tua pessoa.
Vês que está sol. Abre os olhos, tanta alegria que tens! Ou que deverias ter. Por que não ir para a beira das borboletas, das árvores? Correr, berrar. Viver.
Não podes, mas porquê? Tu sabes, ou talvez não.
Vai lá fazer o que sempre fazes, todos os dias. És um óptimo robot, parabéns. Consegues fazer o que... toda a gente consegue. Após tantos anos é quase impossível errares algo. Foste assim concebido. Afinal, dizem que pensas. Ai sim? Espera, deixa-me ganhar vontade de me rir, atirar-me para o chão às gargalhadas. Não sabes o que isso é? Pois não, não estás concebido para isso, o teu dicionário não reconhece liberdade.
Acabam-se as tuas horas diárias de obediência, voltas ao teu ponto inicial. As tuas pilhas estão a descarregar. Ainda queres que te ponham a carregar? Espera, está quase na hora. Vem já alguém tratar disso por ti, alguém que tenha essa tarefa gravada de forma entranhada.
Chegou, e vais carregar.
Agora é ao contrário. Olhas para a cama, deitas-te e fechas os olhos. Adormeces.
E enquanto estás a carregar, também te desligam? Ou ainda continuas em stand-by? Sonhas com o que queres fazer (se te deixassem, ou tu a ti mesmo)? Achas que, pelo menos, se sonhares (caso possas), te vão chicotear, ameaçar, ou torturar? Afinal, para que serve seres um ser humano, se não ages como tal?
Bolas, e se lesses isto? Pois, nem isso deves poder fazer? (A procurar na tua lista de tarefas disponíveis a executar). Pois, não podes mesmo fazê-lo. Azar. Para ti.
E lá vou eu, correr, berrar, sorrir vivamente, VIVER. Afinal eu não vivo através da electricidade nem de um controlo remoto. Um anos, três anos. Dez anos. Muitos anos. Os anos todos.
Continuas a mesma versão, não actualizas, vais à falência, pum, é o fim. Eu não.
quando a liberdade é substituída por um ciclo monótono e controlado é caso para perguntar se a vida faz sentido, se ser um "robot" sem possibilidade de pensar e sonhar nos faz realmente felizes...
ResponderEliminarE depois não há regulação nervosa ou hormonal que salve esses robots humanos. Mas fará sempre parte da realidade infeliz da Humanidade. Vamos é ser felizes :)
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